segunda-feira, janeiro 2

Conversando sobre livros - Meu coração e outros buracos negros

Sociedade Maravilhosa,



Vamos falar de um dos livros mais importantes que você respeita, mas, não teve Hype e quase ninguém falou dele na booksfera: MEU ♥ E OUTROS BURACOS NEGROS.
Todo mundo pronto pra falar sério e se apaixonar? Primeiramente quero ficar de pé e aplaudir a autora por falar sobre depressão com tanta propriedade, ela não narra como alguém que já ouviu falar de depressão, ela narra como alguém que sabe exatamente o que é a depressão e por isso, vamos conversar hoje sobre um dos livros mais importantes já escritos.

Gente como eu amei esse livro, alguém me ajuda.
Ele foi a primeira leitura conjunta - Buddy read - da SSBA (Sociedade Secreta das Blogueiras Literárias - Clique AQUI para saber do que se trata e faça quatro blogueiras felizes) e acabou se tornando uma das melhores do ano pra mim. 

Ano: 2016 Páginas: 312 - AutorJasmine Warga Editora: Rocco J.L. -  Skoob


“Qualquer um que já esteve triste de verdade pode dizer que não há nada de bonito, literário ou misterioso na depressão. Depressão é como um peso de que não se pode escapar. Ele esmaga você (...)”. pág 16

Sinceramente, o que faria se tivesse vontade de suicidar e não quisesse morrer sozinho?
Nossa protagonista decidiu procurar um parceiro de suicídio na internet.
Eu honestamente espero – oro e peço a Deus – para que qualquer pessoa que venha a passar por essa situação, lembre-se dos CVVs – Centros de Valorização à Vida. Eles podem te ajudar de uma maneira que você nem imagina e você pode entrar em contato com eles no 141 de todo o Brasil, ou pode entrar em contato por email/chat no endereço www.cvv.org.br.

Aysel Seran é uma adolescente de 16 anos e vive Langston com a mãe o padrasto e os meio-irmãos. Aos 16 anos, ela decide que quer morrer e define que deveriam escrever em sua lapíde:

“Aysel Leyla Seran, a garota que nunca se encaixou.” Pág 25

Parece clichê né?
Mas pelo quote que deixei lá em cima vocês puderam perceber que Aysel é uma protagonista incrível. O inicio de seus problemas se deu há muitos anos atrás, quando ela era apenas um bebê e seus pais se separaram.
Apesar de seu pai nunca ter se recuperado da separação ele dedicou sua vida para a filha e a loja que tinha por anos e tudo corria relativamente bem, até o dia em que o ele foi preso por cometer um crime que chocou toda a cidade e adjacências com sua gravidade. Quando sua mãe se casou novamente e construiu sua família americana perfeita e feliz, Aysel era muito bem recebida sendo apenas uma visita, porém, assim que se mudou para lá, ela passou a se sentir uma intrusa.
Resumindo seu show de horrores, Aysel perdeu todos os amigos – repetindo, todos –, se mudou para a casa da mãe e nunca entendeu como ou porque o pai fizera o que fez.

É no meio de toda essa pressão que ela desenvolve a depressão, que define como a lesma preta que mora no meu estômago.

“Meu corpo é uma máquina eficiente de matar pensamentos felizes”. pág. 34
“Não sei quantos anos eu tinha quando percebi que a lesma dentro de mim, inevitavelmente comeria todo e qualquer pensamento positivo que eu tivesse”.  114 pág

Acompanhamos a caçada de Aysel a um parceiro de suicídio, até que ela encontra Roman, ou RobôCongelado, seu nick no site e eles decidem cometer suicídio juntos em um local sugerido por ele num dia pré-determinado: 7 de abril.
A data tinha a ver com a tragédia que transformou o jogador de basquete popular, em um RobôCongelado e por isso, para ele, era imprescindível que a data fosse essa.

No passar das páginas você identifica com as dores deles, sofre com eles, entende o que está acontecendo e para de julgar o fato deles terem decidido acabar com própria vida.

“(...) Estou desistindo, me rendendo. Fugindo do buraco negro que é o meu futuro, me impedindo de crescer e virar a pessoa que tenho pavor de me tornar”. Pág 12

Enquanto a tragédia de Roman o perturba porque ele é a única pessoa que poderia ter mudado o rumo dos fatos, a de Aysel o faz porque todos agem como se estivessem só esperando ela se tornar o pai, um passo em falso, um olhar diferente, uma briga... Todos estão esperando que ela surte e mostre “quem realmente é.”


Meu coração e outros buracos negros é acima de tudo uma história sobre confiança e empatia. Às vezes a gente precisa confiar nas pessoas que estão perto de nós, é quase doloroso ver como Georgia a meia-irmã de Aysel tenta se aproximar dela, sem sucesso e como a mãe se sente deslocada na vida da filha, talvez porque Aysel nunca tenha confiado o suficiente nas duas.

Já Roman, decidiu levar nas costas todo o peso de um acidente, fazendo com que sua família que já tinha passado por um trauma enorme, temesse algo ainda pior, temesse que algo acontecesse com ele. Existia a grande possibilidade de Roman ter evitado o acidente que o destruiu? Existia, mas, acidentes são acidentes e acidentes acontecem. Mas, quando o monstro da culpa engole a sua vida é difícil se desvencilhar dele.

O Livro começa no dia 12 de março e caminhamos junto com os nossos protagonistas por 26 dias de dor, autodescoberta, companheirismo, amizade e amor. Apesar de todos os pesares que são muitos, posso dizer que o livro traz uma história muito bonita, fechei o kindle e comprei uma edição física porque eu precisava olhar para ele e lembrar de cada segundo da jornada desses dois, que certamente não serão esquecidos com o passar dos anos.

“Será que é assim que a escuridão vence, convencendo-nosa prendê-la dentro de nós, em vez de jogá-la fora? Pág 183

Esse livro só não é um cinco estrelas pela quantidade de pontas soltas que tem (caso ele continue sendo um stand alone) e pelo “crime” do pai de Aysel. O livro torna isso enorme e quando você descobre o que ele, como ele fez e porque fez a sua primeira reação é: “Se fosse comigo tinha feito igual ou muito pior” depois você pensa e “Eita, que triste”, mas, não existe o menor motivo para toda a cidade colocar o que aconteceu nas costas dela. Achei broxante.

*Lí o livro em ebook, as páginas de referência podem estar diferentes do livro impresso 




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